Em 1503 houve nova expedição, desta vez comandada (sem
controvérsias) por Gonçalo Coelho, sem ser estabelecido qualquer assentamento
ou feitoria. Foi organizada em função um contrato do rei com um grupo de
comerciantes de Lisboa para extrair o pau-brasil. Trazia novamente Vespúcio e
seis navios. Partiu em maio de Lisboa, esteve em agosto na ilha de Fernando de
Noronha e ali afundou a nau capitânia, dispersando-se a armada. Vespúcio pode
ter ido para a Bahia, passado seis meses em Cabo Frio, onde fez entrada de 40
léguas terra adentro. Ali teria deixado 24 homens com mantimentos para seis
meses. Coelho, ao que parece, esteve recolhido na região onde se fundaria
depois a cidade do Rio de Janeiro, possivelmente durante dois ou três anos.
Nessa ocasião, Vespúcio, a serviço de Portugal, retornou ao
maior porto natural da costa brasileira, a Baía de Todos os Santos. Durante as
três primeiras décadas, o litoral baiano, com suas inúmeras enseadas, serviu
fundamentalmente como apoio à rota da Índia, cujo comércio de produtos de luxo
– seda, tapetes, porcelana e especiarias – era mais vantajoso que os produtos
oferecidos pela nova colônia. Nos pequenos e grandes portos naturais baianos,
em especial no de Todos os Santos, as frotas se abasteciam de água e de lenha e
aproveitavam para fazer pequenos reparos.
No Rio de Janeiro, alguns navios aportaram no local que os
índios chamavam de Uruçu-Mirim, a atual praia do Flamengo. Junto à foz do rio
Carioca (outrora abundante fonte de água doce) foram erguidas uma casa de pedra
e um arraial, deixando-se no local degredados e galinhas. A construção inspirou
o nome que os índios deram ao local (cari-oca, "casa dos brancos"),
que passaria a ser o gentílico da cidade do Rio. O arraial, no entanto, foi
logo destruído. Outras esquadras passariam pela Guanabara: a de Cristóvão
Jacques, em 1516; a de Fernão de Magalhães (que chamou o local de Baía de Santa
Luzia), em 1519, na primeira circunavegação do mundo; outra vez a de Jacques,
em 1526, e a de Martim Afonso de Sousa, em 1531.
Outras expedições ao litoral brasileiro podem ter ocorrido,
já que desde 1504 são assinaladas atividades de corsários. Holanda, em Raízes
do Brasil, cita o capitão francês Paulmier de Gonneville, de Honfleur, que
permaneceu seis meses no litoral de Santa Catarina.30 A atividade de
navegadores não-portugueses se inspirava doutrina da liberdade dos mares,
expressada por Hugo Grotius em Mare liberum, base da reação européia contra
Espanha e Portugal, gerando pirataria alargada pelos mares do planeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário