A apatia só iria cessar quando D. João III ascendeu ao
trono. Na década de 1530, Portugal começava a perder a hegemonia do comércio na
África Ocidental e no Índico. Circulavam insistentes notícias da descoberta de
ouro e de prata na América Espanhola. Então, em 1532, o rei decidiu ocupar as
terras pelo regime de capitanias, mas num sistema hereditário, pelo qual a
exploração passaria a ser direito de família. O capitão e governador, títulos
concedidos ao donatário, teria amplos poderes, dentre os quais o de fundar
povoamentos (vilas e cidades), conceder sesmarias e administrar a justiça. O
sistema de capitanias hereditárias implicava na divisão de terras vastíssimas,
doadas a capitães-donatários que seriam responsáveis por seu controle e
desenvolvimento, e por arcar com as despesas de colonização. Foram doadas aos
que possuíssem condições financeiras para custear a empresa da colonização, e
estes eram principalmente "membros da burocracia estatal" e
"militares e navegadores ligados à conquista da Índia" (segundo
Eduardo Bueno em "História de Brasil"). De acordo com o mesmo autor,
a sugestão teria sido dada ao rei por Diogo de Gouveia, ilustre humanista
português, e respondia a uma "absoluta falta de interesse da alta nobreza
lusitana" nas terras americanas.
Foram criadas, nesta divisão, quinze faixas longitudinais de
diferentes larguras que iam de acidentes geográficos no litoral até o Meridiano
das Tordesilhas,nota 1 e foram oferecidas a doze donatários. Destes, quatro
nunca foram ao Brasil; três faleceram pouco depois; três retornaram a Portugal;
um foi preso por heresia (Tourinho) e apenas dois se dedicam à colonização
(Duarte Coelho em Pernambuco e Martim Afonso de Sousa na Capitania de São
Vicente).
Das quinze capitanias originais, apenas as capitanias de
Pernambuco e de São Vicente prosperaram. As terras brasileiras ficavam a dois
meses de viagem de Portugal. Além disso, as notícias das novas terras não eram
muito animadoras: na viagem, além do medo de "monstros" que habitariam
o oceano (na superstição européia), tempestades eram freqüentes; nas novas
terras, florestas gigantescas e impenetráveis, povos antropófagos e não havia
nenhuma riqueza mineral ainda descoberta. Em 1536, chegou o donatário da
capitania da Baía de Todos os Santos, Francisco Pereira Coutinho, que fundou o
Arraial do Pereira, na futura cidade do Salvador, mas se revelou mau
administrador e foi morto pelos tupinambás. Tampouco tiveram maior sucesso as
capitanias dos Ilhéus e do Espírito Santo, devastadas por aimorés e
tupiniquins.
Nenhum comentário:
Postar um comentário